A minha iniciação à pesca

01-07-2009 16:35
Quando nos anos 80 me iniciei na “pesca de lazer”, unicamente “surfcasting”, a forma e a maneira de estar nesta actividade desportiva tinha outro sentido em correspondência com o passado e o que viria a suceder no futuro. Desde a minha meninice que alguns dos meus amigos de brincadeira eram já iniciados nesta actividade de lazer.
Tudo começou no nosso habitual local de encontro de fim de tarde, a oficina do Sr. João sapateiro, que ficava por detrás da estação da CP de Sintra do lado da passagem de nível, era pai do Sr. Carlos que durante anos trabalhou na loja Brancana em Sintra, ele aparecia por lá ao fim da tarde para ajudar o pai.
Neste local reuniam-se miúdos das redondezas, talvez mais de duas dezenas das mais diversas idades.
Naquele tempo os momentos de lazer eram consumidos a jogar à bola em plena rua ou junto aos armazéns da CP, conduzindo os famosos carros de rolamentos, a brincar aos cowboys e aos índios, ou numa amena conversa lá pela oficina, e foi assim que muitos começaram a ir à pesca com o Sr. Carlos, na foto, uma forma de a miudagem não enveredar por caminhos estranhos como ele ainda hoje diz.
 

Esta foto pode ser encontrada no seguinte endereço, propriedade de um grande pescador de Sintra, Pesca em Sintra, agradeço ao Luís Batalha a sua cedência. No entanto só em 1980, já adulto, fui atraído para esta actividade lúdica, então comprei o meu primeiro material que ainda hoje me acompanha nas poucas idas à pesca.

Comprei então um canelon da marca “Sportex” com 5,50 metros de comprimento, uma cana ligeira de que já não distingo a marca, e dois carretos da marca “Mitchell” os modelos 498 e 4470, material de ataque, sendo eu muito cuidadoso consegui chegar até agora com estas relíquias em condições de levar à pesca com as peças compradas à menos anos. Não devemos esquecer de juntar a este primeiro material uma parafernália de outros acessórios indispensáveis e, a outros menos úteis, como os anzóis, os destroce dores, as chumbadas, bóias, amostras, etc..

Com o conhecimento até então adquirido fui percebendo que para se pescar nem tudo o que se vai comprando é estritamente necessário. No entanto, só em 1982 a “paixão” por esta actividade de lazer tomou posse dos meus momentos livres, não na totalidade, felizmente.

À altura com dois colegas de trabalho, o Fernando e o Rui, em companhia do meu irmão Carlos, saíamos ao fim de semana, ora ao Sábado ou ao Domingo, raramente os dois dias, e por vezes durante a semana ao fim da tarde, como trabalhávamos por turnos e no mesmo turno, lá íamos em digressão pelos diferentes pesqueiros desde Cascais à Praia de S. Julião, eram nossas a Azóia, o farol da Roca, Adraga, praia Grande e Pequena, Aguda, Samarra, S. Julião e pelo meio os inúmeros pesqueiros que ficam perto destas praias. É destas digressões que hoje sinto saudades, era espectacular estar lá em baixo e ver cá em cima o Farol da Roca, todo aquele silencio que nos rodeia, chegar à Aguda ou à Samarra ainda de madrugada com a humidade e o frio a penetrar-nos através da roupa o corpo, mas valia pelo silencio e pelo peixe que se apanhava, umas vezes sim outras não, mas valia sempre a pena.

O meu primeiro “peixão” foi capturado no “lajão” da praia da Aguda, em Sintra, numa manhã de Primavera, eu e o meu irmão, levantamo-nos de madrugada como era hábito nestas investidas de pesca, ainda o sol não despontava, e já nós descíamos as sempre incomodas escadas da Aguda.

Chegados lá abaixo, como éramos os primeiros, rumamos para a esquerda da praia em direcção ao “lajão”, nesse dia coberto de areia, e formando um areal dentro e fora de água, com um bom fundão para se colocar a isca.

Aparelhei a minha “Sportex” à qual casei o “Mitchell 498” cheio de 0,45, na época era assim fios grossos, um anzol 2/0 para robalos que cravei num rabo de sardinha fresca comprada na praça ao “pardelhas” a 50 escudos o quilo, uma pechincha. Mas era assim, a isca que me acompanhava sempre, naquele tempo, era a sardinha, por um lado era barata, por outro era e é, quanto a mim ainda hoje, o melhor isco. Com isto não quer dizer que não levasse outro, mas em pequena quantidade, liras de lula, buxo de polvo, umas amêijoa, coisa pouca. Por vezes apanhávamos “tiagem” mas eu nunca fui grande espingarda a iscar com tiagem, pelo que desistia cedo.

Bem por fim lá fiz o meu lançamento ainda o dia não tinha clareado. Entretinha-me a empatar uns anzóis, quando surgiu um ruído intenso das gaivotas a grasnar intensamente sobre o mar, logo de seguida senti uma enorme chicotada da ponteira do canelon, seguido de um desenrolar desenfreado da linha do carreto, de seguida repete-se tudo de igual modo. Levantei-me com o coração bastante acelerado, e começo a recolher a linha.

De principio tudo bem lá fui dando à manivela do carreto, mas sempre cada vez mais pesado, até que tinha de ajudar recuando e avançando rapidamente enquanto enrolava a linha até que o monstro chegou finalmente a terra firme. Afinal não era assim tão grande quanto parecia, andava pelos dois quilogramas. Este dia vou sempre recordar com imensa saudade .

O aparelho era sempre o mesmo, linha de diâmetro 0,45 mm ou mesmo 0,50 mm, uma laçada dupla e dois nós, estralho a trabalhar entre estes dois nó, baixada de 1 metro a 1,5 metros, e por último anzol 2/0 com a bela sardinha cortada ao meio, uma vez iscava-se o rabo na outra vez a cabeça.

No fim passava-se por dentro da argola da chumbada de 120 a 150 gramas a laçada final.

Durante muito tempo, digo mesmo desde sempre, o meu isco preferido foi e será sempre a sardinha.

Não quero dizer que não use qualquer outro isco, como ganso, coreano, casulo, amêijoa, lula, etc..

A sardinha servia para todo o tipo de pesca, quer cortadas ao meio, em filetes, cortada ás postas, etc., para apanhar os robalos, safios, ou sargos.

Em 1986, apanhei na praia da Adraga, do lado esquerdo junto ao arco, um baila e uma raia, ambos com cerca de 1,5 quilogramas, com o mesmo isco de sempre, a sardinha.

Entretanto a vida foi sofrendo alterações na disponibilidade de cada um, todos havíamos casado, e as novas responsabilidades fizeram com que o grupo se desfizesse, a amizade não, e cada um passou a ir menos vezes à pesca.

Ainda fui algumas vezes com o meu irmão. No entanto ultimamente tenho ido sozinho ou com outros amigos, ou nas férias, mas poucas vezes.

Quando vou sozinho opto por pesqueiros de praia, praia da Adraga, ou procuro a companhia de um amigo para pesqueiros mais difíceis onde não se deve ir sozinho.

Na primavera vou ver o pôr–do-sol à praia da Adraga, pois como, sou funcionário municipal e tenho horário de plataforma fixa posso sair uma vez por outra ás 16,30 horas, o que na primavera com os dias a crescer e a mudança de horário me permite estar à pesca cerca 5 a 6 horas, incluindo algum tempo nocturno.

Outras vezes lá tiro um sábado ou um domingo para desafiar um amigo para uma surtida até à praias da Aguda, de Samarra, de S. Julião ou mesmo pesqueiros mais complicados como Cavalinhos, ou a Ribeira da Mata, etc..

Mas já nada é como dantes, em que víamos nascer o sol e o sol a pôr-se, por vezes na solidão de um qualquer pesqueiro surgia o ruído de uma qualquer aeronave a cortar o mesmo, numa qualquer praia desta costa atlântica no litoral sintrense.