Ledgering e Surfcasting

01-07-2009 16:13
A pesca de lazer tem evoluído positivamente ao longo dos tempos. No entanto, o “ledgering” e o “surfcasting” têm-se mantido tal como sempre foram na sua definição, tendo, no entanto, evoluído a nível técnico, no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos materiais e acessórios, dando por sua vez origem a novas técnicas de pesca, como prolongamento delas mesmas.
São exemplo disso a pesca de spinning, de corrico com bóia de água ou chumbada, da chumbadinha, etc.
A diferença situa-se na forma geométrica dos ângulos formados pela cana e a linha de pesca em relação ao mar:
 
- No “ledgering” forma-se um angulo de 80 º
- No “surfcasting” forma-se um angulo de 20 º

Como definições temos que:

 


 

fig. 1

 

O “ledgering”, fig. 1. é a pesca praticada por um pescador colocado num plano superior ao mar, nas rocha altas, nas arribas, nos promontórios, nos quebra-mares, nos recifes, nos diques, etc., formando um ângulo de 80 graus. É uma pesca praticada na vertical.


fig. 2
 

O “surfcasting”,fig. 2, é a pesca praticada nas praias de costas arenosa e planas, ou mistas, com areia e pedras baixas e mariscadas, ou somente pedras baixas e lajões, desde que se encontrem ao mesmo nível das águas de modo a conseguir-se um ângulo de 20 graus. É uma pesca praticada na horizontal. Procura-se lançar a isca para além das ondas, tendo como meio propulsor uma chumbada.

As diferenças centram-se na maior ou menor dificuldade que cada uma das técnicas, apresenta quando da captura do peixe, tornado-se menos difícil o domínio e a recolha na horizontal do que na vertical. Sendo necessário a utilização de alguns apetrechos específicos para a retirada do peixe em zonas altas. A própria resistência do nylon é diferente quando mergulhado na água do que quando fora dela.

No “ledgering” que se pratica em zonas de grande e média altitude, promontórios e falésias, onde os materiais a utilizar tem alguma diferença para o surfcasting.
As canas devem ter entre os 4,50 e 5,60 metros de comprimento, de dois, três partes ou telescópias, tendo em conta as condições físicas do pescador.

Os carretos devem ser de bobina fixa com a capacidade variando entre os 200 e 300 metros de nylon, que pode também variar entre os diâmetros de 0,45 a 0,50.

O diâmetro do nylon prende-se com as pretensões do pescador atingir muita ou pouca distância e do tipo de peixe existente no local, não sendo de aconselhar diâmetros abaixo do 0,40 mm.

As chumbadas variam conforme as condições do mar, a corrente, o vento e o local onde a pretendemos colocar, podendo ser esférica, oval, tipo relógio ou mesmo piramidal. A chumbada deve ser fixa á linha principal ou ao “chicote” utilizando um nylon de diâmetro inferior, a que chamamos “fusível”, para quando a mesma se prender este dispositivo se quebre e possamos retirar o restante material com ou sem peixe.

Os anzóis variam conforme o peixe que se pretende capturar, variando entre o 3/0 e 0/2, podendo por vezes existir a necessidade de baixar ou subir o tamanho do mesmo. Deve ser empatado em nylon inferior ao da linha do carreto, para quando o peixe entocar ou o anzol prender, só perdermos a baixada.

As iscas utilizadas dependem da zona e do estado do mar, não esquecendo as iscas autóctones de cada região, as quais devem ter a primazia, pelo que se podem dividir da seguinte forma:

Em águas escuras utiliza-se iscas brancas, como o berbigão, a amêijoa, a lula, o lingueirão, a sardinha, o bucho de polvo, o camarão, etc.


 

fig. 3

 

Em águas normais pode-se utilizar as atrás mencionadas, mas as mais indicadas são o casulo, a tiagem, o coreano e o ganso, assim como, as iscas vivas, o caboz, o caranguejo, o ralo, a camarinha, o mexilhão, etc.


 

fig. 4

Em águas claras usamos as chamadas iscas vermelhas, como a tiagem, a coreano, o grilo, a minhoca do lodo, o ouriço-do-mar, etc.

As iscas não se esgotam nas anteriores, pois existe uma imensidão de iscas, dependendo de região para região, devemos assim ter presente as iscas regionais que darão a certeza de bons resultados. Podem ser utilizadas desde as naturais ás artificiais.
Esta pesca feita em fundos de pedras e rochas mariscadas onde a sua disposição no mar condiciona a vida dos peixes, proporcionado abrigos e fundões, onde socorrem correntes, e onde existe uma boa profundidade de água, são elementos a ter em conta para fazer boas pescarias.
Neste tipo de pesca pode utilizar-se um tipo de montagem como o que vem indicado na imagem da figura 1, sugerido por Victor Seiça em Janeiro de 1981 na Revista “Pesca & Companhia”.

Com esta montagem quando a chumbada assente no fundo, faz com que a isca esteja em suspensão tornando-se mais visível e mais excitante, despertando assim a atenção de um qualquer peixe que ande a alimentar-se.
Nestas montagens podemos utilizar um, dois ou três anzóis por aparelho, sendo de aconselhar a aplicação de estralhos contendo empates de anzóis de medidas diferentes, para podermos diversificar o tipo de capturas. Eu pessoalmente não passo dos dois anzóis por aparelho para facilitar o trabalhar do peixe quando da captura.



 

fig. 5


 

No “surfcasting” que se pratica durante todo o ano, de dia ou de noite, sendo o período mais produtivo ao nascer e ao pôr-do-sol, sempre com o intuito de efectuar uma qualquer captura.
Pratica-se utilizando uma chumbada fixa, podendo ter as mais diversas formas e pesos. Pode utilizar-se duas ou três baixadas, não mais por imposição da lei de pesca, dependendo das espécies a apanhar. Na pesca ao robalo, costumo utilizar uma montagem simples como a da figura 6.
A cana deve ter na sua extremidade inferior um espigão metálico, para se fixar na areia, por ser uma pesca de espera, ou usar um suporte metálico no qual a depositamos, tendo neste caso ganho alguns centímetros em altura.



 

fig. 6


 

Neste modalidade devemos usar botas de borracha de cano alto, até á cintura ou com peitilho, para podermos aproxima da água, ou mesmo entrar pelo mar dentro, e ganharmos alguns metros quando do lançamento.
O “surfcasting” não se resume a uma pesca praticada nas praias, é também praticado em zonas mistas de areia e rocha, e nas zonas baixas da costa formadas por pedras e lajes ao nível do mar.
Em qualquer dos casos devemos ter presente a necessidade de tomar conhecimento das condições atmosféricas, do aspecto e condições do pesqueiro, e técnicas a utilizar. Podemos fazer um resumo, para memória futura, do que encontramos, do que sucedeu, sempre que vamos á pesca, já que cada dia que vamos á pesca é um dia novo que jamais se repetirá de igual modo:


 

- O céu, o vento, a hora, o local, o estado e a cor do mar, etc.
- As iscas utilizadas, o nylon usado, o tamanho das baixas, etc.


 

No “surfcasting” a prática da pesca não se faz só em fundos de areia, mas também em fundos mistos de areia e pedras, ou mesmo só de pedras. Por este motivo, o conhecimento dos “fundos” tem muita importância para a realização de uma pesca com êxito.
O conhecimento dos fundos faz-se na maré-vazia, porque o recuo do mar põe a descoberto toda a natureza dos mesmos:

- As pequenas lombas ou dunas de areia;
- Os pequenos canais atravessados por correntes, sendo por esses canais que o peixe se aproxima de terra;
- As grandes extensões de areia entre rochas que atrai os peixes na maré-cheia para se alimentarem;
- Os bancos de areia ou lajedos onde se encontram vestígios de
- Minhocas, mariscados com mexilhão, são locais que atraem os sargos e robalos para ai se alimentarem;

A estes locais, nomeadamente de noite, poderão ser pescados as raias, os robalos, as douradas, etc.
Nos fundões formados pelas coroas de areia, que se situam entre estas e a praia são locais a explorar. Porque devido á força da corrente que por ai circula, os fundos são remexidos pondo a descoberto os alimentos que os peixes procuram para se alimentar, tornando-se locais bastante concorridos na procura de alimento por diferentes espécies.

Este tipo de pesca pratica-se ao longo de todo o ano, mas as melhores épocas para a sua prática com êxito são durante o Outono e a Primavera, com algumas oscilações de região para região. Outro factor que devemos ter presente é a influência das marés, sendo que as melhores alturas são as viragens das marés, as três ultimas horas da subida e as duas últimas da descida.

Como vimos anteriormente o “surfcasting” é praticado em zonas baixas de fundos maioritariamente arenosos e mistos, formados por pedras e lajões mariscados entre línguas de areia, ou mesmo só de lajes e pedras. Estas zonas estendem-se ao longo de toda a costa entre uma profundidade que vai dos 3 metros aos 9 metros. Até estas profundidades os raios solares atingem com facilidade estes fundos “arenosos” tornado-os muito produtivos em alimento para as espécies. Encontram-se nestes fundos peixes de forma espalmada como o rodovalho, o linguado, a solha, o pregado, etc. Também os predadores incansáveis como os robalos, as douradas, as raias, os cações, etc. os procuram para se alimentar.

As zonas “mistas” são frequentes na nossa costa junto a costas altas e rochosas, com origem situações naturais, são muitas vezes provocadas por uma qualquer queda de falésias, ou pelo curso de um rio, etc., proporcionam profundidades que podem ir até aos 10 metros de profundidade, sempre protegidas pelas falésias.
Nesta modalidade devemos ter um conhecimento avalizado dos fundos, para termos a noção exacta do tipo de lançamento a efectuar, isto é, se devemos lançar para longe, 100 a 200 metros, ou se devemos pescar para perto 10 a 20 metros, porque por vezes as condições dos fundos permitem-nos pescar perto do pescador.
Em relação ao material a usar, não difere muito do anterior:

- A cana deve ser comprida, entre os 4,5 e os 5,5 metros, de modo a proporcionarem uma boa altura da ponteira ultrapassado as ondas com melhor aproveitamento. Forma como atrás foi dito um angulo de 20 graus entre o nylon e a superfície do mar. Deve ser forte, com ponteira sólida, com bastante elasticidade de modo a tornar-se bastante sensível, para sentirmos com facilidade o toque do peixe. As passadeiras devem ser estreitas, o que aumenta a aerodinâmica durante a saída do fio, também diminuímos a espessura do nylon, tendo por objectivo proporcionar bons lançamentos. Nos anos 80 era moda o uso de passadeiras largas. Devemos ter em conta que o tamanho da cana deve ser proporcional á estatura do pescador que a vai usar.

- O carreto deve ter uma capacidade entre os 200 e os 300 metros de nylon com bobine fixa ou livre, com uma embraiagem sensível e de fácil regulação, para possibilitar um melhor controlo na luta com o peixe quando da sua captura.

- Actualmente utiliza-se nylon de diâmetros abaixo do 0,40 mm, mas nem sempre foi assim. Deve-se encher as bobinas até metade com fio velho de diâmetro 0,50 mm, por fim enche-se o restante com 0, 30 mm, completando com um “chicote” de diâmetro 0,30 mm a 0,45 mm ou com uma ponteira de fio único com o diâmetro de 0,45 mm tendo como bitola para o calculo da seu tamanho 3 vezes o comprimento da cana que se vai utilizar.

- As baixadas devem ter sempre diâmetros inferiores ao fio da bobina ou do “aparelho”, sendo as ligações efectuadas por detorcedores para que as baixadas se movimentem livremente ao sabor das correntes e, não surja o perigo de se enlearem na linha principal.

- As chumbadas mais adequadas são normalmente as de formato piramidal ou as francesas, que vêm guarnecidas com uns arames para melhor se fixarem nos fundos arenosos. No entanto, a utilização das chumbadas requer um analise atenta do estado do mar, quanto ás correntes, ás ondas, ao vento, ao tipo de fundos, a distância a atingir, os peixes a capturar, etc., podendo em qualquer altura ter de se mudar para outro formato de chumbadas mesmo das redondas, das de formato de lagrima ou de torpedo. O seu peso varia entre as 50 gramas e as 200 gramas.

- Os anzóis usados devem ser os adequados a espécies predadoras que poderão atingir bom porte. Deverão variar entre o número 3/0 e o número 0/ 2 conforme as espécies que se pretende apanhar.

- Os iscos não diferem muito dos da técnica anterior, como os:

- Os vermes marinhos, ganso, coreana, tiagem, etc.
- Os moluscos, o choco, a lula, o bucho de polvo, etc.
- Os bivalves, berbigão, amêijoa, mexilhão, etc.
- Os pequenos peixes, as sardinhas, as cavala, cabozes, etc.
- Os caranguejos, os camarões, as camarinhas, etc.

- O “surfcasting” pratica-se com qualquer estado do mar e a todas as horas, sendo o período mais produtivo o primeiras e as ultimas horas das mudanças de maré, ao amanhecer ou ao anoitecer, e durante a noite.

Na Primavera quando da reprodução pesca-se de noite nas zonas baixas, durante o Verão e na primeira metade do Outono, procuram-se as douradas. No Inverno pratica-se o surfcasting para a pesca do predador mais procurado, o robalo.


 


 

fig. 7



 

fig. 8

 


 

As figuras 7 e 8 apresentam os aparelhos que utilizo habitualmente nesta modalidade.


 

fig.9



 

fig. 10


 

Os aparelhos apresentados nas figuras 9 e 10 são da autoria de dois pescadores de nacionalidade francesa, a Corinne Pernet e Robert Perret.

No “surfcasting” podemos engodar na praia em determinados pontos fixos, onde a onda venha lamber o engodo, arrastando-o em pequenas quantidades na direcção da entrada do canal formado entre a praia e a coroa de areia. A forma de se engodar mais comum é como a da pesca á bóia, outra forma é enterrando pequenas quantidades em zonas fora de água e esperar que a maré suba.

No “surfcasting” podemos ainda utilizar um aparelho com o nome de “rabeira”, figura 11, este aparelho tem a particularidade de o estralho estar ligado a um destorcedor que corre livremente ao longo do linha principal. Dando a sensação ao peixe quando do abocanhar da isca de não estar fixo a nenhum peso. Utiliza-se com mares mansos e pouco vento, com a maré a vazar ou com a ondulação a correr ao longo da praia.

O tamanho da rabeira depende da acção de pesca e do local, podendo situar-se entre os 4 metros e os 5 metros de mínimos até aos 10 metros de máximo.



 

fig. 11


 

 



 

fig. 12


 

Em zonas de rocha a rabeira não deve ter mais de um anzol, e o estralho deve ser curto, figura 12.

Gostaria por último de falar na necessidade de cuidarmos da nossa segurança quando da ida á pesca, que no “ledgering” e no “surfcasting” ou, noutra qualquer modalidade de pesca, a segurança é primordial, ver bem onde pisamos, nunca voltarmos as costas ao mar, nunca arriscarmos em demasia quando entramos no mar ou, quando procuramos chegar a um peixe que ficou a pairar sobre uma rocha batida pelo mar. A máxima do pescador deverá ser sempre a de que não existe presa nenhuma que mereça ao arriscar da nossa segurança.